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Porque amamos odiar

Salve o brado retumbante de um povo heroico. Um povo heroico que não foge a luta, que conquista a liberdade, algo que não pode ser penhorado, com braço forte, com luta justa.

Sem grandes heróis construímos esse país, sem grandes guerras, sem muito ódio, com pouco sangue. Então nada explica.

Nada explica que somos recipientes, recipientes de essência, vasilhames, como aqueles de perfumes, que aguardam que uma fragrância ocupe, preencha, ilustre nosso interior.

Somos frascos e potes personalizados, especiais. Especiais! Só nos preenchem as fragrâncias que aceitamos. Aquelas que falam sobre a gente, que são nós mesmos.

Sentimos sem pensar, sentimos pra existir. Sentimos aquilo que nos preenche por que deixamos preencher, sentimos apenas. Simplesmente.

Mas o que sentimos? Por que sentimos? Em que acreditamos? O que aprendemos?

Percebemos que amar dói, então, muitas vezes, elegemos o ódio. Ódio contra o menor, que pode aprontar e não será punido (como nós seriamos). Ódio contra o bandido, aquele que nos tira algo que temos. Ódio contra o vizinho, que parou momentaneamente em frente a nossa vaga de garagem. Ódio contra o cachorrinho, que está em cima do banco, na praça.

A vantagem do ódio é clara, ele é imperioso. Como o amor, ele preenche, ele acalenta. Amamos odiar, por que assim resolvem-se os problemas. A culpa é de um partido, não de um sistema. A culpa é de uma pessoa, não de um contexto. A culpa é do animalzinho, quem mandou ele ficar velho?

Eis que o velho e bom ódio se mostra como um norte, como um refugio acolhedor da nossa frustração  e do nosso fracasso como ser, como humano.

De ódio em ódio, vamos vivendo. Vamos avançando no tempo, que não se importa se odiamos. A vida segue, os problemas surgem, os dias passam e os problemas? Bem … para os problemas, elegeremos um culpado.

Em nome de Deus, odiamos o diabo, odiamos os homossexuais, odiamos as mulheres que amamentam seus filhos, odiamos, odiamos, odiamos.

E Deus, bem… Ele só pensa em amor.

Tiago Nunes de Oliveira
Autor do Livro Utópica – Um Mundo sem Leis

  1. ocorpodisse
    janeiro 2, 2017 às 5:31 am

    Texto ótimo! Abraçamos o ódio como forma de escudo para defender a nossa forma turva de ver a vida e esquecemos que o amor é exatamente a ausência de ódio! Texto esclarecedor e muito leve! Parabéns!

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